Escondido nos recônditos das marchas carnavalescas, um mistério:
Aurora; uma mulher comum, que desejava ser amada e feliz, foi imortalizada sob o jugo da insinceridade.
Difundida aos quatros cantos do nosso país, a marchinha acusa indubitavelmente essa mulher de não ser sincera.
Mas nunca ficou claro o em que se baseia tal acusação.
Agora o mistério chega ao fim:
Depois de anos de investigação, pesquisando arquivos e entrevistando testemunhas , consegui finalmente descobrir o motivo que levou a essa mulher carregar até hoje o estigma que a deixou na miséria.
A historia de uma mulher cuja paixão fez com que abrisse mão da única chance de sua vida de ter um lindo apartamento com porteiro e elevador, ar refrigerado para os dias de calor sem contar com a alcunha de madame antes do nome.
Eis:
A VERDADEIRA HISTÓRIA DE AURORA (por Dú Badaró)
Aurora era uma mulher simples, nascida no Rio de Janeiro, em Santa Cruz na zona oeste. Foi criada numa família pobre mas honrada.
O esmero em sua criação refletia o desejo de seus pais de que, através de um bom casamento, pudesse sua filha ter um futuro mais digno e próspero.
Aurora foi educada com sacrifício, na arte do corte e costura, também cozinhava muito bem e cantava no coral da pequena igreja de seu bairro.
Engana-se porém quem achava que seus dotes se limitavam aos talentos domésticos. Pois era também, Aurora, uma formosa rapariga.
Certa feita conheceu Mário Lago, advogado, homem de letras que era também compositor e ator nas horas vagas.
Mário, quase à primeira vista, encantou-se com Aurora e, como mandavam as boas maneiras da época, pediu aos pais da pretendida que autorizassem o namoro.
Os pais, apos minucioso escrutinio da vida do pretendente, permitiram a relação, e, assim o namoro seguiu dentro dos conformes. No sofá da sala, no máximo de mãos dadas.
O grande problema é que Aurora não amava Mário.
O aceitara por respeito à seus pais, uma vez que o jovem advogado representava tudo aquilo eles desejavam. Um homem de família, que morava num belo apartamento no Leblon.
Para desespero da pobre moçoila, meses antes conhecera um jovem rapaz aventureiro: Alaor, mais conhecido como Alaô, que sonhava em atravessar o deserto do Saara. Alaô era um bonito moço sempre com o rosto bronzeado, pois se recusava a passar protetor solar na cara.
Aurora se apaixonara perdidamente por Alaô e numa noite de luar cedendo a paixão que a arrebatava, finalmente se entregou ao amado. Mas, para seu desespero, seus pais descobriram o romance proibido e, sem saber que Aurora não era mais casta, proibiram terminantemente o namoro dos jovens apaixonados.
Quando surgiu Mário, encantado por Aurora, foi um grande alívio para a família e forçada por seus progenitores, ela, muito à contragosto, aceitou o namoro.
O que ninguém sabia é que ela ainda encontrava-se secretamente com Alaô. E e secretamente, numa noite sem lua, fugiram os dois para nunca mais voltar.
Dizem que fugiram para o Egito e se converteram ao Islã e que rezam muito para Allah.
Foram vistos por Haroldo Lobo (que estava em excursão pela África) atravessando o deserto do Saara, sob o sol quente, ambos somente com o rosto queimado (provavelmente pelo habito de não usar protetor solar na cara).
Mário, surpreendido e decepcionado em sua dor compôs então a famosa marchinha. E em seu sofrimento conheceu a irmã de Aurora: Amélia, que aceitou casar-se com Mário mesmo sabendo que ele ainda amava a outra irmã. Afinal, ela não tinha a menor vaidade.
Boa Tarde.
Bibliografia:
Aurora (Mário Lago e Roberto Roberti)
se você e fosse sincera / Ô ô ô ô, Aurora
Veja só que bom que era / Ô ô ô ô , Aurora
Um lindo apartamento / Com porteiro e elevador
E ar refrigerado / Para os dias de calor/ Madame
Antes do nome / Você teria agora/ Ôôôô Aurora
Allah-la-ô Composição: Haroldo Lobo e Nássara
Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô ô
Atravessamos o deserto do Saara
O Sol estava quente, queimou a nossa cara
Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô ô...
Viemos do Egito
E muitas vezes nós tivemos que rezar
Allah, Allah, Allah, meu bom Allah
Mande água pro iôiô
Allah, meu bom Allah,
(Agradecimentos: Alexandre Saad Kyk, Andréa Obata, Rodrigo Iervolino. Pela viagem coletiva que deu origem a esta crônica)