"Amar é um dos verbos mais difíceis de se conjugar: o seu passado não é perfeito, seu presente apenas indicativo; e o futuro é sempre condicional." (Jean Cocteu)"

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

The greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return.


Existe uma ilusão de que amor é algo que se constrói com o tempo.
Não! Amor é a base sobre a qual se constrói qualquer relação.
Existe um preciosismo em cima da palavra amor que acaba deturpando seu próprio significado.
Amar é (ou deveria ser) o primeiro sentimento com o qual travamos contato. O amor de mãe se manifesta no o aconchego do útero. È assim que o amor é: nos remete à segurança e nos deixa auto-confiantes.

O amor tem a temperatura certa. E nos protege dos males, mesmo que tenha que dizer não.
O mais importante: o amor não mente.
Ele diz a verdade, doa o que doer, e verdades inteiras, nada se esconde por pena, o amor não poupa quem ama pois sera perdoado pela pior verdade.Mas nunca SE perdoará por mentir.
O amor é confiança e ainda compreensão, quem não sabe ser amado não sabe amar. Cria um personagem amável esconde os defeitos.
É a pessoa que esconde um sua personalidade, seus vícios e seus defeitos té mesmo de seus pais que são as pessoas que mais deveriam amar.
Essa pessoa não teve amor, ou nunca entendeu o que é amor.

A mágoa do dia que se descobre que se foi enganado por tanto tempo é muito maior. Se faz isso com os próprios pais o que essa pessoa fará com as pesssoas que a amarem durante a vida?
Quem sabe ser amado não tem medo de decepcionar. Pois sabe que será perdoado.
Mas de todos os inimigos do amor orgulho é o pior. Escondido sob um falso “amor próprio” o orgulho só magoa e destrói. Ignorância daquele que confunde orgulho com amar a si mesmo, o orgulhoso quer só que sua verdade e seus interesses prevaleçam.
Não querem que a imagem falsa sobre a qual baseiam suas vidas seja desvendada. Não assumem seus atos por vergonha. Vivem por prosperidade e não por felicidade. São preconceituosos pois somente a si que sentem e se põe acima de qualquer um.
Alguns são tão apegados a esse amor próprio que se negam a ter filhos, pois são incapazes de dividir seu mundo. São estéreis, secos por dentro.
Há também as pessoas que só querem ser amadas, sem amar. Assentam-se num comodismo, pois previne o sofrimento, mas é triste pois a cada vez que se nega o amor por medo de sofrer nega se também o indescritível prazer de amar. Tudo fica rotineiro, "mais ou menos". Mecânico.
Tenho pena dessas pessoas, pois a vida delas é cinza. Pois é a aquarela do amor é o que pinta um sorriso no nosso rosto principalmente de manhã, a hora mais feliz do dia, pois quem é amado acorda do seu sonho para uma realidade ainda melhor.
.

Boa Tarde!

sábado, 4 de setembro de 2010

Sem ti, tudo correrá sem ti....


Acredito sinceramente no fim da humanidade. Não necessariamente em cataclismos, grandes destruições, tragédias apocalípticas e aquecimentos globais.
O fim que eu temo já está em andamento e se refere a destruição da humanidade que cada um tem dentro de sí.

As pessoas não se entendem mais, pensam somente em sí ou num círculo pequeno de pessoas que estão a sua volta e servem aos seus interesses. A "involução" atual nos carrega ao mesmo patamar das cortes francesas onde a frivolidade, falta de caráter e total incapacidade de viver sem os luxos que acabaram por quebrar o estado.
]
Entendam que não falo de política, não são planos sociais, mas o "eumismo" o egocentro localizado no umbigo de cada elemento de uma coisa que a gente nem pode mais chamar de sociedade.

Uma supervalorização da vida que a deixou maior que qualquer valor, e acredite a vida não é o maior valor. Fernando Pessoa (como Alvaro de Campos) sabia muito bem disso quando escreveu:

"Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar..."

Antigamente se morria pelo que se acreditava, hoje vive-se sem acreditar em nada. "Sombras fúteis" sim é isso que somos.

Nos julgamos tão importantes que esquecemos que há pouco sequer existíamos e o mundo passava "muito bem obrigado".

A diferença que podemos fazer está nas marcas que deixamos no mundo, nossa continuidade. Nunca deixaremos uma marca numa repartição publica onde trabalhamos no dia a dia, a marca esta no trabalho realizado e não na pessoa que o realiza. Cabe a nos a vontade de que nosso nome seja lembrado.

A marca esta na sua obra e naquilo que deixar nesse mundo e acredite muitas vezes nem saberão que foi você, quantos sabem o nome de seus bisavós, ou os pais deles? E quantas vezes agradecemos ou simplesmente atribuímos à eles o fato de estarmos vivos? talvez essa seja uma boa hora.

"Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjectividade objectiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.

E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?"

E são!

Boa Tarde!

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Poesia completa
(Se te queres matar, Fernando Pessoa)

Se te queres matar

Fernando PessoaSe te queres matar, porque não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por actores de convenções e poses determinadas,
O circo polícromo do nosso dinamismo sem fim?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...

Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjectividade objectiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente:
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células nocturnamente conscientes
Pela nocturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atómica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

Álvaro de Campos


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