Estou relendo um livro do Rubem Alves, um livro antigo chamado “Navegando”.
Não é de hoje que gosto muito do Rubem Alves, e o conheço desde a infância por ele ser amigo de minha mãe e freqüentar a minha casa.
Na verdade aquele senhorzinho calvo com uma coroa de cabelos brancos, semblante sereno e um respeitável narigão que freqüenta minha casa é para mim uma pessoa completamente diferente do Rubem Alves que vejo nos livros.
Não que seja pior, obviamente ambos são a mesma pessoa, mas, confesso que as vezes chega a me incomodar a personificação da mágica contida naqueles textos que, me inspiraram e me ensinaram uma forma nova de ver a vida.
Ler os textos do Rubem é uma janela que se abre e ensina como ver a vida de uma forma totalmente diferente, ensina que a vida não é feia, depende muito do lado que se olha.
Isso me faz pensar nessa relação quase conflituosa entre o homem e a sua obra.
É estranho quando a gente conhece a pessoa atrás do ídolo, e descobre que é só uma pessoa.
Muitas pessoas idolatram e amam a pessoa por que misturam a obra com o autor. Acho isso triste, pois muitas vezes o ser humano por trás da obra fica imerso em uma nuvem formada por fragmentos de sua própria obra.
Conheci já algumas pessoas ditas famosas, sou filho de artista, e sempre me envolvi de uma forma ou de outra com o encanto dos filhos das artes.
Uma das coisas que digo é que toda vez que me aproximei de uma maneira ou de outra vi a tal nuvem se dissipar mostrando alguém muitas vezes surpreendente e algumas vezes decepcionante.
Mas a grande verdade é que a obra tem realmente o encanto, como não misturar as letras maravilhosamente hipnóticas de Chico Buarque com aqueles encantadores olhos azuis. Como não misturar a genialidade dos personagens de Fernanda Montenegro, àquela senhorinha delicada.
Mas é preciso lembrar que o humano não é a obra é o ser. E ao contrario do finito da existência do ser, devemos sim admirar a eternidade da obra.
Por isso sei que o Rubem da minha casa tem todos os defeitos e qualidades que qualquer pessoa pode ter. Mas sua obra me toca e tudo que nos toca deve ser lembrado.
Boa Noite
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